quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Por favor, não atirem!
Não vêem que já perdi minha alma?
Se quiserem, levem tudo que nunca foi meu
Nem sequer minha vida me pertenceu...
Mas primeiro, pra evitarmos desperdicios,
Quero terminar esse cigarro de palha!

E não me levem a mal,
Não é que eu não queira
Morrer, fugir, me perder
Que é pra esquecer, esse nome

Essa marca em mim,
Que reflito, mas nao escolhi
E me consome, feito embalagem
De um corpo tragável, descartável
A vitrine em promoção...

Com garantia e validade
Espectador do meu proprio desejo
Negando assim o amor e a dor que me invade!

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Vicio Vital
















Louvado seja esse meu vicio,
Sem pudor, sem compromisso
Que não priva os sentidos,
De se dissimular
E que me entrega de vez, o pecado
De uma boca seca
Que só quer se embriagar

Feito um guia ateu
Lembra o tempo todo que seria de mim
Sem tudo o que me prometeu,
Aí de quem tivesse que buscar enfim
A liberdade de ser, sem depender
De um vicio tão vital,

E na falta de você,
Fico em uma ressaca sóbria
De intensa solidão,
Ao conviver com a culpa,
Na lembrança, deriva de perder a luta,
Sem encontrar, um seguro porto
Sem sustentar nesse cansado rosto
A euforia de uma ilusão

Seria como o amor,
Sem a saudade
Insensatez sem promiscuidade
Casamento sem submissão
Contratos sociais sem prostituição
Pastor sem rebanho
Dores sem danos
Mentiras absolutas sem religião

E não se engane,
Em pensar que o vicio é um coma
No qual um dia eu possa acordar
O vicio é um sintoma, ao se perder
Nessas relações de poder
Que o tempo todo
Insistimos em propagar...

terça-feira, 29 de outubro de 2013


Atrás dessa pele marcada, 
Coberta em tatuagens, a nudez reage 
Em sedenta, selvagem atração 
Guiada, alada a dominação 
Da supremacia, profana tempestade
Que não se engana nem reprime, 
Não deixa corpos, 
Os devora, os devolve
Aos porcos, interiores 
O que querem? 
O que esperam? 
Vomitar a dor, 
O conflito que tanto se evitou
E com ele, sem perceber 
Evitou se todo o resto 
Agora virou guerra...

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Suicidio Moral






Eu não soube me calar,
Preferi não esperar,
Que o veneno se espalhasse
Os dias vão e vem, mas ninguém
Confronta a indiferença, nem a doença
Do fascismo, que para uns cabe a sentença,
Para outros, o prazer

Mas eu queria sofrer a queda
Meu impeto foi pular,
Da beira daquele precipício
A frente os braços, e laços me atavam
Tentando me segurar, mas em cada passo
Uma força mais forte me levava
E me joguei, me arremessei
Sem par, sem casa pra voltar...

O parapeito era um farol,
Que sempre indicava a direção,
Fazia dele meu abrigo, minha ética
Droga e religião...
Mas a queda era sedução,
Desejo de encontrar outro sentido
Que não sustentasse uma ilusão

Preferiria assim, me eternizar,
Em momentos autênticos, de vivência sublime
Não queria cometer pra mim
Um crime, de esperar
Que os céus viessem me buscar...

Não importava o impacto,
A morte daquele fato,
Era para o desejo, um recomeço
E lá embaixo,
Abracei sem luto,
A realidade, que não cura
Mas era um mar,
De possibilidades pra me libertar...

Péricles Carvalho

sábado, 5 de outubro de 2013

Porto alma...



Feito pôr do sol,
Meus olhos foram se cobrindo,
Nas profundezas de incertezas
Das minhas próprias regressões,
Afogando me em uma induzida loucura,

Em meio a águas turvas e escuras,
Veneno para uma consciência em completa negação
De todas as vezes que me deixava levar
Abandonando a própria luta,
Fugindo em alto mar,
O medo afundava esse corpo
Que não sabia nadar, mas se escondia
Rezando e chorando, esperando a resposta
Que não vinha, chegar...

E como miragem, na outra margem
Estava abandonado, ancorado, o amor...
Um lugar tão distante,
Onde não ousava chegar,
Mas estaria ao alcance
Se eu pudesse liberta lo
Mas primeiro me libertar
Das repressões e temores, deixando remar o desejo
E se enfrentar, se permitir
Aprendendo com o amor que não nasceu para seguir...

Péricles Carvalho

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Sentença...




E quando for, 
Embora o amor
Levando com ele o calor
E elo que nos sustente
Não haverá lei, rei ou quem 
Que se apresente em teu altar

Não haverá restos 
Que se dê à aproveitar
Territórios sem donos, 
Sem tronos, 
E quando o inverno visitar,
Pela ausência da chama pelo amar
O peito se petrificará, 
Em gélida e infinita sensação
De morte, 
Não haverá teto
Que nos protegerá, Nem projetos
À se sustentar, 
E se regressará a escravidão
O homem a si próprio

Feridas se abrirão 
Por entre as asas do desejo
E a liberdade de voar 
Com a força das emoções, 
Que nos guiam para o poder 
De acreditar, de sentir e mudar
Deixarão os céus em silêncio
Como se jamais pertencessem a este lugar

E quando for, 
Embora o amor 
O sentido sucumbirá, 
Perdendo o rumo, 
E a alma por suicídio 
Não mais existirá, 
Deixando um vazio à beira mar.
A vida se arrastará 
Por entre espinhos, sem jamais se curar...

Péricles Carvalho e Quézia Gonçalves



sexta-feira, 13 de setembro de 2013



O tempo se tornou intragável
Um suplicio, tão vulgar
Que resisto, mas não luto
Me escondo, em sinais

Em sintomas, de um luto
Minha doença, a saudade
Onde espero, escuto
Essa dor, que eu não quero
Que acabe, me matar

E se me traga tal fuga
Não exito em esconder
Na penumbra. As areias caidas
De uma escultura dolorosa, 
Dolorida, que acasala
Abraçando o que já se foi

Como um estrangeiro
Em terra desconhecida, 
Passageiro da passividade
Espera hibrida

Péricles Carvalho e Quézia Gonçalves


terça-feira, 10 de setembro de 2013

Drama civilizado...

Cansei de ser apenas um personagem
Agora me mostro nu, sem decoros, sem maquiagem
Não quero ser mais a graça da vez,
E me contentar com a mentira,
De restos e rimas vazias,
Pagando com a vida para ter a minha vez,

Em cima do palco, esperando aplausos
E não interessa quem está lá, quem é você,
Por que tudo que parece é,
E o segredo é se parecer,
Com algo que lhes façam entreter

Personagem somos todos nós
Com nossos roteiros e repertórios
Tão cegos, tão sós
Mas quando vamos para os bastidores
Que expulsamos nossas dores
E demônios que não queremos mostrar...

Desejos que não sublimamos, pois é preciso improviso
E na presença do conflito, reproduzimos mais um rito
Pela ausência do amor, continuamos a atuar...

sábado, 31 de agosto de 2013

Trajetórias...

Dos passos sem rumos que deixaram
As sombras tão livres
Aquelas que me despertaram
Lembravam vidas seguindo, fugindo, indo ou vindo
Mas que marcaram, algo além
De uma escancarada solidão,
Em caminhar e continuar incessantemente,
Muitas vezes sem razão,
Diluindo ódio e egoísmo com rivalidade
Em combustível pra competição
Mas ao invés disso, ficou a saudade.
De todos que gritavam por liberdade
Agora as vozes se calaram…
E nos revelaram que a doença
É qualquer consciência em silêncio…
Mas o silêncio mesmo, não existe!

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O Pandemônio da Valsa...






















Veja só como tudo mudou
Sem perceber, ela se matou
E continuava a morrer
Todos os dias quando esquecia o por que...
E pra que persistir, seu segredo era apenas dançar
Sem olhar, as voltas, sem se importar
Com a ameaça e a promessa de mudança...

Algo que passou por nós sem pressa
Trouxe e levou vidas como cantigas de festa
E ela dançava sem saber onde iria pisar
Em meio ao incêndio de caos e pobreza que não iria cessar
A valsa era a sua ideologia,
Que a cobria com sonhos de compensação
E as chamas ali presentes, pareciam pra ela, cores sutis de um lindo violão

Perguntei a ela o que ela faria
Quando acabasse aquela euforia
Já que a música e a valsa era o que mantia sua respiração
Sem pensar ela me disse, não sei
Mas mesmo que doa,
Prefiro acreditar que mudar e se confrontar,
São simplesmente problemas de outras pessoas...

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Meu nome é pecado...
























Você preferiu acreditar em deus
Eu preferi acreditar em mim
E por mais que sejamos iguais
Seu rebanho só se faz em hierarquias de poder
A igreja agora é você,
Seu corpo é a casa de deus
O lar que eu tenho sou eu

Meu corpo é um livro, 

É simbolo, de uma linguagem independente 
E do meu sacrifício
Faço história, e vejo cada amanhecer acontecer
Suas preces são gritos e inundações de sentimentos contidos,
Que buscam cura, mas se calam na dependência de um submisso...
E como vai amar o próximo que nem sabe o nome?
Se maldito é o homem que confia no homem?
E ainda o chama de irmão?

Liberdade para você é suicídio moral

Mas para mim mesmo parecendo solidão é o encontro com o real
Você encontrou a fé
E a abraçou
Eu nasci lutando,
Não preciso de conforto
Enquanto você pede perdão pelo que quer
Eu peco descobrindo o amor...

domingo, 4 de agosto de 2013





Quem é você?

Você é uma arma, pronta para disparar
Pronta para ferir quem quer que seja
Apontando palavras de ordem, força bruta
Covardia a nos segregar

Você é uma cura, que pode fazer diferença
Encorajar, amar além do que se espera,
emergir nos outros novas curas
E se curar...

Mas também é loucura, que faz das fugas
Seu abrigo, em pensamentos,
Quando a realidade já não traz tanto sentido
E como numa prisão, luta pra se libertar

Afinal, quem é você?
Que não sabe escolher
E se atreve o tempo todo
Em ser
Arma, cura e loucura para viver...

sábado, 3 de agosto de 2013

Encontro com o real










    Fez se o pleno silêncio após um último grito, foi a sua maneira de se despedir. Abriu passagem para a morte convidativa, e como fuga, deixou se levar mais uma vez. 


     Ela sonhava em ser bailarina, dançaria para viver, mas naquele momento queria ser qualquer outra coisa menos ela mesma. E já não era mais, nunca será. Foi embora antes mesmo que seu corpo permitisse, pois não conseguira enlouquecer, desistiu, sucumbiu se numa eutanásia psíquica e instantaneamente a carne cedeu. Para alguém tão idealista, a morte significou o seu primeiro e único encontro com o real. 


    Não havia na constituição uma punição para o que acontecera, mas também não haveria justiça, do contrário daquilo que se esperava, ela não estava nas mãos de deus. 


    Estava dominada pelo impulso compulsivo de um sociopata que seguia suas próprias leis e princípios, o principio de um prazer sem absoluta culpa!


    Aquele que não sofria luto, relutou, não queria tê-la matado tão depressa. Ainda saboreava com todos os sentidos a dor daquele momento, sentia um estranho prazer ao brincar com vidas. Descobriu se dependente de possui-las, assim sentia que poderia se aproximar da criação. 


    Os restos daquele corpo agora não teriam mais a mesma utilidade, tornaram átomos que se uniriam em outros organismos numa união tão natural e necessária quanto a morte. Seria apenas parte de novas criações, de outras vidas...

quinta-feira, 25 de julho de 2013


















O desejo me deu nome
Encorajou me a falar, a sorrir, a amar
Ensinou me o que era fome
Deu me um propósito para movimentar

E através da linguagem constante,
Aprendi a lhe simbolizar,
Do significado ao significante
Construí minhas projeções
Transferências e frustrações

Com a lei dos homens, te reprimi
Com a lei de deus, te demonizei
Mas foi com o ego, através dos sintomas que te deformei.

Tornei me ato falho, neurótico oco, vivo no imaginário
Tentando me libertar, de uma realidade repressora
Formada por instituições narcísicas e perversas
Que tomam o nosso lugar de desejar,

E quando não nos adaptamos a essas relações de poder
Culpam nos pelo nosso próprio mal estar
O que eles não sabem é que o conflito do desejo
Como um cavalo selvagem, não conhece limites e não se pode dominar...

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Vício de linguagem


Hoje me perdi e me encontrei em um vicio promissor
Vicio que sempre me encorajou
A gozar sem medo e sem pudor 
E nessa libido, calor, fiz amor
Sem camisinha, com as suas linguagens poéticas
E projetada nelas, recriei as minhas

Filho do acaso



Sou rito de passagem 
Nesse folclore popular
Crio minhas próprias tradições
E no embalo do improviso
Sigo o meu futuro sem seguir ninguém
E se vivo numa cultura paternalista, 
Mereço me acusarem de édipo desordeiro
Pois foi o acaso que me pariu, 
Não me apresentem o destino
Nem suas verdades
Se forem absolutas 
Não quero saber
Só quero sublimar, me surpreender...

Luto em devaneios...





Ao abrir os olhos e se dar conta de que ainda estava no mesmo lugar, na mesma condição que tentara fugir ao dormir, amaldiçoou o dia por isso. E com ele o brilho intenso da manhã, o cair da chuva, o barulho do mundo lá fora que representava a vida inerente a sua existência, o que o fazia sentir se ainda mais miserável. Por que a dor era eminente, e pensar, extravasar, se entorpecer já não fazia diferença, Deus não estava lá e tinha certeza disso, e por isso tudo e todos eram paliativos e indiferentes diante de seu luto.

Lembrou se de uma antiga definição do que era deficiência: “Condição de total dependência quando não se tem capacidade alguma de mudar a sua realidade sem o outro”. Era como se sentia. Mas não havia ajuda alguma, só a sombra de uma vida que construíra apenas com ilusões e contratos sociais, da qual já rasgara do livro de sua vida pessoal.


Enxergou se despido diante do espelho, via ali sua imagem indefesa e cheia de marcas, suas marcas contavam sua história que guardava só para si. Era homem com desejo de criança. Ele refletia ao espelho uma verdade inconveniente, vivia em negação, queria ser tantas pessoas e acabou sendo apenas ele mesmo... Já não queria refletir mais a mentira dos outros, se alimentar com mentiras para viver, isso só fazia sentido para quem tinha medo. Órfão da guerra de viver, não queria fugir, queria lutar por um amor mais forte. E quando foi perseguir lo, encontrou em si mesmo o seu próprio lar!

Semiologia da Repressão...

Tão exemplar é o sintoma, imune ao tempo e a omissão. Desejo que se desloca em mecanismos de defesa, uma linguagem inconsciente e patologicamente insaciável, gritando em silêncio...

Seu sentido é ambivalente, é arma, ancora e bengala. Traz dor e prazer, como conciliação entre elas. O sintoma não é desequilíbrio, é a tentativa de se equilibrar entre a castração e catarse, entre auto regulação e destruição. 


A saúde do neurótico depende tanto de uma dada medida do sintoma quanto o pastor dos seus fieis...

domingo, 7 de julho de 2013

Ditadura Psiquica


















Inconscientemente,
Nos alistamos para uma guerra...
Cujo o nome é Mercado, a "nova religião"
E sob ordens autoritárias
Armamo nos em profusão
De falsos moralismos, consumismo
Coletiva solidão e obsessão...
Armas que não nos defendem
De emergir sintomas de frustração
Juntos, conduzidos a essa psíquica ditadura.
Sem querer, descobrimos o caminho para a loucura.

Péricles Carvalho

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Sobre o Filme Elena

Elena,

Precisava desabafar sobre o filme... Não vou fazer uma análise psicológica dele por que ficaria muito chato e até prolixo.

O que posso dizer é que o filme em si de tão expressivo e intenso envolve cada espectador como se expusesse uma nudez afetiva a ponto de sensibilizar profundamente.

Do inicio ao fim, as cenas se esgotam em devaneios, poesias ambivalentes e vivas... É surpreendente como a protagonista Elena, é projetada em todos que a rodeiam, como para a sua irmã que tem nela um parâmetro para tudo, seu Id, seu Superego.

Enfim, é um autêntico filme brasileiro, de um gênero melancólico e romântico... Vale dizer também que seu conteúdo é de pura arte, ou seja, só encontra valor para quem compreende e aprecia a subjetividade emocional. Além do mais não vejo a beleza do filme só pela melancolia que ele trás, mas também pelo que nela representa, um processo de cura se emergindo.

Para a diretora Petra Costa, nota dez pela iniciativa!


https://www.youtube.com/watch?v=RmoXIxoM99s

domingo, 23 de junho de 2013

Espetáculo Visceral...







Se por acaso for, apenas dor
A sua dor,
Não me pertence, e nunca vai me pertencer
Sou aquilo que de puro sinto,
Em sensações, não me engano ao dizer

Que a dor alheia não existe,
E muito menos nosso altruísmo
Existe sim, em nós é um padecer
Que de tão sádico, se maquiou

E com ele, o masoquismo...

É o desejo, que nos atrai o olhar
Fixamente, para as feridas
Feridas abertas marcadas no outro
E com os olhos, a cutucamos profundamente
Delas nos entretemos, num êxtase simbólico

Cada homicídio, cada espetáculo, cada horror
Não é a dor que nos atinge, é a vontade
Vontade de desejar, de prazer pulsional
Um prazer desumano por destruição
Que não se perdeu na pose de senhor civilizado

Por outro lado, em nossas tragédias se acolheu...
E aos poucos, cria força e sentido 

Mas não é perversão, 
Mudou se o ato? Só os conceitos e obsessões

De vísceras expostas ao alcance das mãos 

Para preconceitos e Juizo de valor,
Jogos de poder e dominação 
Em fantasias de compensação eu vejo
A morte, em ascensão... 


(Péricles C. Passos)

sexta-feira, 14 de junho de 2013

O lugar...

Onde vamos, onde estamos
São lugares, circunstâncias...
São também confrontos e possibilidades

Para o outro também posso ser uma possibilidade
Afinal, o lugar também pode ser eu ou você
E no encontro com o outro projetamos nossas possibilidades
O encontro nos torna diferentes

Mas talvez haja medo de se perder neste encontro
Medo que dê sentido a solidão, ao narcisismo patológico e a falsa independência...

Mais do que isto, somos dimensões que se estendem além de nós
Com um potencial sublime para a arte, arte de criar, de amar e de morrer...
E ao criarmos, construímos pontes entre nós
Ao amarmos, nos encontramos
Contudo, quando destruímos, mesmo que aos poucos, morremos também.

(Péricles Carvalho Passos)

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Em todo encontro com o mar...

 
Enquanto eles navegam contra o tempo, 
Tentando fugir das suas próprias tempestades. 
Deixam a deriva sonhos e pensamentos... 

Em todo encontro com o mar, de relações, de conflitos

São escravizados pelo medo intolerável da frustração
E a fuga é o contento do próprio narcisismo, da repetição

Suas rasas e adoecidas mentes são inundadas pela falta e angústia, 

Estagnados, consolam se pela própria paz na solidão 
Por sentirem se como náufragos, 
Mas donos de seus futuros e presentes sem direção!

A Cura pela Motivação...



Às vezes me pergunto em meus descompassos de ceticismo, que mesmo que não haja nada neste infinito que possa nos salvar das perdas inevitáveis no decorrer da vida, intimamente ligadas com a natureza de viver, e  ainda que alma e espírito não passem de uma ilusão que construímos em certas crenças talvez como maneiras de dar um propósito a tudo pelo que passamos, mesmo assim existem nelas um fator que pode nos impulsionar a nos tornar pessoas melhores do que somos através do poder da fé... E como ela pode desencadear uma motivação sobre-humana até mesmo em pessoas nas condições mais improváveis, naquelas que tiveram seus direitos sociais, morais e até o seu lugar vetado na sociedade. Mas será que é disso mesmo que precisamos para convivermos melhor com as frustrações ou supera-las?
O que realmente salva as pessoas? Acreditar em Deus? Acreditar no amor? Se Deus é mesmo amor, então amando estamos nos salvando… Mas mesmo que ele não exista, podemos construir nossos próprios céus e infernos por que tudo depende da nossa condição de bem estar e enfrentamento diante do que vier. Penso que o que salva as pessoas é o que motiva nelas o discernimento e a vontade de produzir mudanças. Seja pelo amor, seja pelo aprendizado, pela religião ou pelo conhecimento, mas a nível consciente e saudável.
 Enfim, a fé pode salvar assim como pode também adoecer se não houver um suporte racional e emocional no indivíduo para não transformar aquilo que lhe motiva em obsessão, mas em síntese a cura pode sim ser constituída pela motivação. 

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Jura Secreta (Zélia Duncan)




Só uma palavra me devora
Aquela que meu coração não diz
Só o que me cega
O que me faz infeliz
É o brilho do olhar
Que não sofri


                Antes de iniciar a leitura deste texto baseado na música de Zélia Duncan, recomendo que escute a canção enquanto estiver lendo. Acredito que tornará a leitura mais agradável e compreensível.


                Cabe citar aqui, que no efeito de uma canção assim é possível sentir uma espécie de dor expressiva antes diluída em música, e traduzindo isso para uma visão mais analítica. Ao se entregar ao compasso de uma música, assimilando a linguagem e o sentimento melódico é também motivar cada um de forma psicossomática. E uma vez envolvido neste encanto, o tempo, as pessoas e as coisas já não são vistas e sentidas da mesma forma. Pois a música traz um novo significado, uma nova perspectiva para quem a sente, e pode também ser associada a ideias/lembranças positivas ou não, e a subjetividade que cada tem com determinados gêneros musicais é o que chamamos de identidade musical, estabelecida segundo os músico-terapeutas no inicio da vida durante os primeiros 6 meses. Lembrando que tudo aquilo que revive um sentimento pode também trazer à tona uma lembrança, inevitavelmente.

                Tenho como Jura Secreta, um possível desejo frustrado impulsionador de angústias, uma inquietação muitas vezes citada por românticos incuráveis, principalmente aqueles platônicos da 1° geração, seria talvez um amor narcísico para a Psicanálise? Acredito se tratar mais de um investimento libidinal enraizado a um sentimento de culpa. Em paralela culpa com um medo da castração muitas vezes eminente. E a maneira como somos inibidos por ele em nossa história pessoal gera uma influência direta na estrutura de uma personalidade neurótica, como questão de temperamento, enfrentamento e fuga de situações e principalmente em nossas relações afetivas.

                Em cada verso, as palavras ecoam em mim algo além da falta de um objeto, mas também um vazio existencial de que todo ser humano pode padecer ao se deparar com a possibilidade de um futuro não apenas solitário, mas principalmente uma relação não-autêntica. Pois a solidão é muito mais relativa, que acredito funcionar tanto como um mecanismo de defesa quanto uma reafirmação reciproca de um desprezo coletivo e por que não dizer que pode estar presente em todos os níveis de convivências gerada por indiferenças.

                Penso que a construção de autenticidade é algo muito particular e subjetivo, talvez por que não existe um modelo para cada pessoa. E não se trata apenas de estabelecer uma relação narcísica para supostamente termos uma ilusão de sermos mais especiais. Também acredito que não se trate de "encontrar o paraíso", pois uma experiência autêntica pode ser também uma boa dose de veneno para cada um de nós. Pois imagina se o poeta Dante em sua Divina Comédia, após atravessar os nove círculos do inferno e subir aos céus no ato de encontrar sua amada, fosse obrigado a regressar ao abismo novamente e fosse ali aprisionado? Afinal, refiro-me a essa relação não como uma situação, mas como condição de enfrentamento e resiliência diante do que a vida tem a lhe oferecer.

                Ter ideias assim podem também provocar conflitos pessoais, por que a nossa realidade social exige outras condutas de nós e então as escolhas da nossa vida e o investimento das nossas energias podem permear a partir delas. Seja quando desistimos de fazer algo notável na vida para sermos notado através do status quo, ou quando preferimos não correr o risco de enfrentar nossos pais para namorar uma pessoa diferente do que eles planejaram para nós. São pequenas repressões que em longo prazo alimentaria sintomas de inquietações e sentimentos de culpa, pois quanto maior a repressão maior o desejo, justificando o que Freud chama de o grande mal estar na civilização.

                No entanto não tem jeito, quando procuramos independência e felicidade a níveis não só sociais, mas particulares, deparamos com a pressão alheia que tenta nos uniformizar. É irônico como muitos falam sobre liberdade, mas geralmente ficam chocados quando presenciam alguém tentando exercê-la.

                Talvez o motivo de inúmeras neuroses seja principalmente este tipo de repressão que delonga investimento libidinal sintomático, deixando claro que a nível inconsciente até estaria resolvido, mas conscientemente estaríamos sujeitos a conflitos interno, sentimentos de culpa e obsessões. E isso não quer dizer que precisamos deixar que todas as nossas vontades falem por nós, mas que em cada decisão seja avaliada por um ganho não puramente imediato, mas a longo prazo por exemplo. O sofrimento também precisa ser trabalho, pois nem toda frustração é opressora e negativa, e nós podemos reagir de forma mais consciente se aprendermos a negociarmos com nós mesmos, entre nossas possibilidades e a compreensão responsável das consequências.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Relacionamentos avessos...




Entendo que a falta de experiências positivas em relacionamentos podem justificar respostas emocionalmente imaturas e disfuncionais em  adultos, diante de situações em que discriminamos como sendo negativos, geradoras de constrangimento e ansiedade. No entanto, se comparássemos a maneira como nos envolvemos emocionalmente na infância e na fase adulta perceberíamos que podemos não necessariamente amadurecer, apenas substituir a ordem dos nossos limites.

Durante a infância, no impeto de nossa inocência, quando encontramos alguém especial se me lembro bem, primeiro respondemos apaixonadamente. De forma intensamente platônica e altruísta, sem nem mesmo conhecermos ou sermos apresentados a pessoa nos sentimos reforçados de forma mais ideal do real. Mas se temos a oportunidade de conhecermos, talvez haja algum envolvimento e por último que atingiríamos a intimidade.

Mas quando se é adulto, se tornou tão comum sermos condicionados "pelo avesso", que o primeiro somos estimulados pelo ato sexual e já queremos chegar a intimidade, sem nem mesmo conhecermos a pessoa direito,depois se houver algo além, pode ser interessante se envolver e conhecer a pessoa melhor.E talvez, por último aprenda a ter amor por ela.

E ao chegarmos a uma forma fisiologicamente madura, nos deparamos também com as necessidades hormonais, vista também como um fator impulsionador de relações sociais, que podem ser satisfeitas ou não por um padrão de pessoas a nível mais relacionados a estereótipos e comportamentais. No entanto, se partimos de um interesse sustentado nessa necessidade,  chegamos a um acordo de que isso não justificaria as relações monogâmicas entre pessoas,  talvez poderíamos substituir a palavra pessoas por objetos sexuais nesta circunstância. E como podemos enxergar então a relação monogâmica entre pessoas? Por meio do amor?




Por sermos indivíduos civilizados e devotos a propostas de se cumprir papéis sociais com a expectativa de se garantir uma condição modelo de realização, somos pressionados a avaliarmos nossas relações com base nas necessidades de um roteiro contingencial, que privilégio status quo e relações de poder de um gênero sobre outro. Criando uma hierarquia em nossos vínculos, isso pode provocar disputas e abusos de poder nas relações, deixando de lado o respeito mútuo e a cumplicidade.

Sugiro ainda que fatores intangíveis/afetivos são importantes para manter e perpetuar um relacionamento diante da variável tempo e de possíveis estímulos concorrentes que resultariam em uma traição de cônjuge,  diferentemente talvez dos motivos que levam a conquista em primeira instância.

Ao convivermos cada dia mais com promiscuidade nas relações, das quais são condicionadas pela perversão e oportunismo entre as pessoas, nos deparamos também com pessoas que tem dificuldade de amar seu parceiro e parcializa-lo ao mesmo tempo, no sentido de dividir com ele seus fetiches sexuais, estando sujeito a tornar se assim um obsessivo conservador que assume o papel de esposo e ocultamente satisfaz suas necessidades sexuais com outras pessoas.

Penso então que podemos conviver intimamente com outra pessoa sem nem ao menos sentirmos uma simples culpa de machucá la fisicamente ou psicologicamente,  e ao mesmo tempo sentir profunda solidão mesmo estando em interação com essa pessoa diariamente. Possivelmente por meio de nos constituirmos na prostituição emocional e sexual implícita nas relações banalizadas socialmente, relações de poder que podem acontecer em todos os níveis de socialização, quando estamos condicionados a viver em função de um prazer possessivo, egoísta e sintomático que não possibilite mais do que a satisfação das nossas próprias obsessões, em resposta ao medo excessivo da frustração, atando assim a possibilidade de enxergar o outro e se colocar em seu lugar, e impedindo uma constituição recíproca de planos de vida e um amor mutuamente reforçador.