sábado, 3 de agosto de 2013

Encontro com o real










    Fez se o pleno silêncio após um último grito, foi a sua maneira de se despedir. Abriu passagem para a morte convidativa, e como fuga, deixou se levar mais uma vez. 


     Ela sonhava em ser bailarina, dançaria para viver, mas naquele momento queria ser qualquer outra coisa menos ela mesma. E já não era mais, nunca será. Foi embora antes mesmo que seu corpo permitisse, pois não conseguira enlouquecer, desistiu, sucumbiu se numa eutanásia psíquica e instantaneamente a carne cedeu. Para alguém tão idealista, a morte significou o seu primeiro e único encontro com o real. 


    Não havia na constituição uma punição para o que acontecera, mas também não haveria justiça, do contrário daquilo que se esperava, ela não estava nas mãos de deus. 


    Estava dominada pelo impulso compulsivo de um sociopata que seguia suas próprias leis e princípios, o principio de um prazer sem absoluta culpa!


    Aquele que não sofria luto, relutou, não queria tê-la matado tão depressa. Ainda saboreava com todos os sentidos a dor daquele momento, sentia um estranho prazer ao brincar com vidas. Descobriu se dependente de possui-las, assim sentia que poderia se aproximar da criação. 


    Os restos daquele corpo agora não teriam mais a mesma utilidade, tornaram átomos que se uniriam em outros organismos numa união tão natural e necessária quanto a morte. Seria apenas parte de novas criações, de outras vidas...

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