Só uma palavra me devora
Aquela que meu coração não diz
Só o que me cega
O que me faz infeliz
É o brilho do olhar
Que não sofri
Antes de iniciar a
leitura deste texto baseado na música de Zélia Duncan, recomendo que escute a
canção enquanto estiver lendo. Acredito que tornará a leitura mais agradável e compreensível.
Cabe citar aqui, que no efeito
de uma canção assim é possível sentir uma espécie de dor expressiva antes
diluída em música, e traduzindo isso para uma visão mais analítica. Ao se
entregar ao compasso de uma música, assimilando a linguagem e o sentimento melódico
é também motivar cada um de forma psicossomática. E uma vez envolvido neste encanto,
o tempo, as pessoas e as coisas já não são vistas e sentidas da mesma forma.
Pois a música traz um novo significado, uma nova perspectiva para quem a sente,
e pode também ser associada a ideias/lembranças positivas ou não, e a
subjetividade que cada tem com determinados gêneros musicais é o que chamamos
de identidade musical, estabelecida segundo os músico-terapeutas no inicio da
vida durante os primeiros 6 meses. Lembrando que tudo aquilo que revive um
sentimento pode também trazer à tona uma lembrança, inevitavelmente.
Tenho como Jura Secreta, um possível
desejo frustrado impulsionador de angústias, uma inquietação muitas vezes
citada por românticos incuráveis, principalmente aqueles platônicos da 1°
geração, seria talvez um amor narcísico para a Psicanálise? Acredito se tratar
mais de um investimento libidinal enraizado a um sentimento de culpa. Em
paralela culpa com um medo da castração muitas vezes eminente. E a maneira como
somos inibidos por ele em nossa história pessoal gera uma influência direta na
estrutura de uma personalidade neurótica, como questão de temperamento,
enfrentamento e fuga de situações e principalmente em nossas relações afetivas.
Em cada verso, as palavras ecoam
em mim algo além da falta de um objeto, mas também um vazio existencial de que
todo ser humano pode padecer ao se deparar com a possibilidade de um futuro não
apenas solitário, mas principalmente uma relação não-autêntica. Pois a solidão
é muito mais relativa, que acredito funcionar tanto como um mecanismo de defesa
quanto uma reafirmação reciproca de um desprezo coletivo e por que não dizer
que pode estar presente em todos os níveis de convivências gerada por indiferenças.
Penso que a construção de
autenticidade é algo muito particular e subjetivo, talvez por que não existe um
modelo para cada pessoa. E não se trata apenas de estabelecer uma relação narcísica
para supostamente termos uma ilusão de sermos mais especiais. Também acredito
que não se trate de "encontrar o paraíso", pois uma experiência
autêntica pode ser também uma boa dose de veneno para cada um de nós. Pois
imagina se o poeta Dante em sua Divina Comédia, após atravessar os nove
círculos do inferno e subir aos céus no ato de encontrar sua amada, fosse
obrigado a regressar ao abismo novamente e fosse ali aprisionado? Afinal, refiro-me
a essa relação não como uma situação, mas como condição de enfrentamento e
resiliência diante do que a vida tem a lhe oferecer.
Ter ideias assim podem também
provocar conflitos pessoais, por que a nossa realidade social exige outras
condutas de nós e então as escolhas da nossa vida e o investimento das nossas
energias podem permear a partir delas. Seja quando desistimos de fazer algo notável
na vida para sermos notado através do status quo, ou quando preferimos não
correr o risco de enfrentar nossos pais para namorar uma pessoa diferente do
que eles planejaram para nós. São pequenas repressões que em longo prazo
alimentaria sintomas de inquietações e sentimentos de culpa, pois quanto maior
a repressão maior o desejo, justificando o que Freud chama de o grande mal
estar na civilização.
No entanto não tem jeito, quando
procuramos independência e felicidade a níveis não só sociais, mas particulares,
deparamos com a pressão alheia que tenta nos uniformizar. É irônico como muitos
falam sobre liberdade, mas geralmente ficam chocados quando presenciam alguém
tentando exercê-la.
Talvez o motivo de inúmeras
neuroses seja principalmente este tipo de repressão que delonga investimento
libidinal sintomático, deixando claro que a nível inconsciente até estaria
resolvido, mas conscientemente estaríamos sujeitos a conflitos interno,
sentimentos de culpa e obsessões. E isso não quer dizer que precisamos deixar
que todas as nossas vontades falem por nós, mas que em cada decisão seja avaliada
por um ganho não puramente imediato, mas a longo prazo por exemplo. O
sofrimento também precisa ser trabalho, pois nem toda frustração é opressora e
negativa, e nós podemos reagir de forma mais consciente se aprendermos a
negociarmos com nós mesmos, entre nossas possibilidades e a compreensão
responsável das consequências.