quinta-feira, 15 de maio de 2014

Olho pelo espelho de dentro carro, vejo o trapo enlatado que me tornei, o sol era de foder qualquer cabaço sem cerimônia, sem preconceito.

Aquela longa fileira de carros e prédios, e lixos com pessoas limpando a própria merda e jogando as na frente de outras pessoas pareciam para mim todos os pré requisitos que se admitem como civilização. E na medida que ruminava em meus pensamentos, ia me debruçando aos poucos pela imundície de caos e fumaça, dando me a impressão de estar num cemitério de automóveis, talvez eu fosse a única coisa viva e com certeza a mais louca daquele campo de concentração... Não era verdade, meu túmulo era um bendito fusca com um celo pregado em seu rabo escrito "foi deus que me deu". Já fui um bom cristão, um melhor critico do que mentiroso, coisas que nunca fizeram sentido...

Olho pelo espelho de dentro do carro, só vejo a mim mesmo, distante, sempre fugindo do calor e das coisas como elas são. Os carros seguiam a sua vez, demorei para acelerar, de novo eu divagando no engarrafamento!

sábado, 25 de janeiro de 2014

Ontogênese do florescer... ( Inspirado por Quezia Gonçalves )


Conforme as folhas caiam daquela imensa videira, ilustre simbolo de vida e personalidade para aquele lugar. Ela também sentia se parte desses momentos, de amadurecimento, de sentir a vida passar... Sua ontogênese emocional lembrava os ciclos de vida daquela videira diante das estações, que para dar frutos submetia se inicialmente a um período de repouso em latência, suas forças e desejos ficavam inicialmente contidas e dessa forma evitava contatos mais íntimos, privando se de uma dor potencial. Mas se o elo fosse mais significativo ela caminharia para um período de crescimento, e seus reais sentimentos e desejos aos poucos permitiriam se abrochar até chegar finalmente no período de elaboração, com um contato genuíno que expusesse sua nudez psíquica, frutos de amor para serem colhidos.
Como aquelas raízes, ela se mantinha em pé ainda que não pudesse, mas afinal cresceu e floresceu em dom e destreza com o mais lindo brilho no olhar... Foi então que descobriu se diferente, era firme tal qual sua videira, mas não queria ser dependente, seus pés caminhavam para longe do seu lugar e não pretendiam parar. Assim descobriu se inquieta, inteira, indivisível e que mais do que ninguém ela só poderia cultivar se, envolver se, se não fosse parcializada, se tudo pudesse sentir por que o seu sentido de ser é uma busca por um real significado, de cada linguagem humana, demasiadamente humana. E já não mais se reconhecia como parte de uma linda paisagem, era pintora de seus próprios momentos e deles, personagem...


Péricles C. Passos

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014




















Existe uma distância singular
Entre o salto do desejo
E as instâncias desse mar
Entre o desfecho de um encontro
E o crime de esperar

Mas sem perceber,
Nos tornamos sintomas de mudanças
Diante de uma luta que se trava só,
E sem garantias
Com o medo da verdade
E o vício por mentiras

Mas ainda assim,
Dentro de mim
Existe uma distância singular
Entre a queda e o chão

Entre a vida e a extinção
E a distância é a emoção
De uma queda livre,
Onde a dor e o desejo
Indicam a direção...

Péricles Carvalho

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Por favor, não atirem!
Não vêem que já perdi minha alma?
Se quiserem, levem tudo que nunca foi meu
Nem sequer minha vida me pertenceu...
Mas primeiro, pra evitarmos desperdicios,
Quero terminar esse cigarro de palha!

E não me levem a mal,
Não é que eu não queira
Morrer, fugir, me perder
Que é pra esquecer, esse nome

Essa marca em mim,
Que reflito, mas nao escolhi
E me consome, feito embalagem
De um corpo tragável, descartável
A vitrine em promoção...

Com garantia e validade
Espectador do meu proprio desejo
Negando assim o amor e a dor que me invade!

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Vicio Vital
















Louvado seja esse meu vicio,
Sem pudor, sem compromisso
Que não priva os sentidos,
De se dissimular
E que me entrega de vez, o pecado
De uma boca seca
Que só quer se embriagar

Feito um guia ateu
Lembra o tempo todo que seria de mim
Sem tudo o que me prometeu,
Aí de quem tivesse que buscar enfim
A liberdade de ser, sem depender
De um vicio tão vital,

E na falta de você,
Fico em uma ressaca sóbria
De intensa solidão,
Ao conviver com a culpa,
Na lembrança, deriva de perder a luta,
Sem encontrar, um seguro porto
Sem sustentar nesse cansado rosto
A euforia de uma ilusão

Seria como o amor,
Sem a saudade
Insensatez sem promiscuidade
Casamento sem submissão
Contratos sociais sem prostituição
Pastor sem rebanho
Dores sem danos
Mentiras absolutas sem religião

E não se engane,
Em pensar que o vicio é um coma
No qual um dia eu possa acordar
O vicio é um sintoma, ao se perder
Nessas relações de poder
Que o tempo todo
Insistimos em propagar...

terça-feira, 29 de outubro de 2013


Atrás dessa pele marcada, 
Coberta em tatuagens, a nudez reage 
Em sedenta, selvagem atração 
Guiada, alada a dominação 
Da supremacia, profana tempestade
Que não se engana nem reprime, 
Não deixa corpos, 
Os devora, os devolve
Aos porcos, interiores 
O que querem? 
O que esperam? 
Vomitar a dor, 
O conflito que tanto se evitou
E com ele, sem perceber 
Evitou se todo o resto 
Agora virou guerra...

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Suicidio Moral






Eu não soube me calar,
Preferi não esperar,
Que o veneno se espalhasse
Os dias vão e vem, mas ninguém
Confronta a indiferença, nem a doença
Do fascismo, que para uns cabe a sentença,
Para outros, o prazer

Mas eu queria sofrer a queda
Meu impeto foi pular,
Da beira daquele precipício
A frente os braços, e laços me atavam
Tentando me segurar, mas em cada passo
Uma força mais forte me levava
E me joguei, me arremessei
Sem par, sem casa pra voltar...

O parapeito era um farol,
Que sempre indicava a direção,
Fazia dele meu abrigo, minha ética
Droga e religião...
Mas a queda era sedução,
Desejo de encontrar outro sentido
Que não sustentasse uma ilusão

Preferiria assim, me eternizar,
Em momentos autênticos, de vivência sublime
Não queria cometer pra mim
Um crime, de esperar
Que os céus viessem me buscar...

Não importava o impacto,
A morte daquele fato,
Era para o desejo, um recomeço
E lá embaixo,
Abracei sem luto,
A realidade, que não cura
Mas era um mar,
De possibilidades pra me libertar...

Péricles Carvalho