terça-feira, 29 de janeiro de 2013



Sobre dor e aprendizagem em Tropa de Elite 2...




Não faz muito tempo, assisti o filme Tropa de Elite 2. De teor polêmico, pois a violência e a crueldade presentes no filme anterior era homônimo, do mesmo diretor, se mantém e permanecem o furor e o excesso e o enredo nos lembra que o desproporcional faz adoecer.

Somos testemunhas ou espectadores de uma sociedade em que se dá a degradação a condição humana. Em ambos os filmes mostram, em cenas que não nos poupam, a tragédia em que vivemos.

É ousado, mas mesmo assim afirmo em minha ousadia que a crueldade em Tropa de Elite 2 é demonstrada menos visualmente e mais na indiferença, na mentira e no cinismo que permeiam o comportamento tanto de policiais quanto de políticos, o que, aliás não faz diminuir a dominância da violência e do terror. 

O filme apresenta uma busca desenfreada do prazer e a recusa do diferente - para tanto não há obstáculo, não há lei, não há noites perdidas de sonos. A culpa e a impermeabilidade ao próprio sofrimento ou ao desconforto do outro não são suficientes para deter a avassaladora ânsia de poder. E distante dessa possibilidade de gozo, está um homem forjado em sua própria dor, Capitão Nascimento. Percebi que em nenhum momento do filme ele esboça um sorriso. Nele está presente um conflito existencial: Pois a sua privacidade familiar havia sido invadida
com pura violência, e tão solitário, tem dificuldade de se aproximar de seu filho.

Mas há um momento solene em que o Capitão Nascimento é destituido de seu cargo de comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais e segue sendo transferido para o núcleo da máquina do sistema, e a farda é substituida pelo terno.  Ou seja, o código de honra implacável torna se aos poucos mais fléxivel, e o protagonista se pergunta, afinal, por que matar?



Este pai que no início não sabe como se aproximar do garoto, vai aos poucos aprendendo a se deixar afetar. Ancorado nesse encontro tornam se possíveis seu processo de humanização e a mudança de um código moral que, inicialmente não deixava espaço para a relativização de uma ética capaz de levá lo a denunciar atrocidades. E na intersecção desses dois universos, o protagonista resgata sua dignidade e se apresenta de outro modo.

E como já dizia Fátima Flórido Cesar, se a ausência da culpa poupa os donos do poder de noites maldormidas, Nascimento vive seu sofrimento em vigilia pelo filho atingido por uma bala destinada ao próprio capitão. A aprendizagem na dor entretanto, não atinge a esfera pública: tudo continua como antes. Mas alcança o personagem principal, de prontidão ao lado da cama de seu filho. E o filho ao despertar, num momento de volta à vida, também o pai parece despertar, aliviado e ansioso, para a renovaçao do vínculo amoroso.

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